Ensino superior: o desafio de inovar no dia-a-dia

30 de junho de 2021 0 Por João Irineu

As mudanças tecnológicas vivenciadas nos últimos 30 anos alteraram profundamente as maneiras de ensinar e aprender. Essas alterações se potencializaram com a pandemia de COVID-19, a qual impôs o uso da tecnologia como alternativa para o ensino em contexto de isolamento social. No entanto, embora os instrumentos e a infraestrutura estivesse presente, muitos professores perceberam que o maior desafio na educação atual reside na didática, ou seja, como transmitir o conhecimento e avalia-lo

Trabalhando com o ensino de adultos (graduação e pós-graduação) há quase vinte anos, pude perceber que a organização didática das disciplinas universitárias levava em conta um momento histórico e social já ultrapassado: a ênfase na padronização do conhecimento; a utilização de aulas expositivas como meio privilegiado de divulgação e o uso quase exclusivo da mídia em papel (ainda que digitalizada) refletem um modelo de sociedade industrial pré-internet já superado.

Não obstante a indicação da queda na qualidade da educação no período pandêmico, acredito que a didática no ensino superior incorporará algumas tendências surgidas no último ano e não voltará ao padrão existente antes de 2020. Para vencer o desafio de se inovar no ensino superior tenho adotado alguns princípios que gostaria de dividir: a) Inclusão de atividades assíncronas: porque, para aprender, não precisamos estar sempre todos presentes no mesmo local e hora organizados de maneira uniforme em uma sala de aula; b) Requalificação das atividades em grupo: estar em grupo deve ser um momento de construção conjunta e horizontalizada do saber, um estímulo para a criatividade; c) Adoção de novas mídias como fontes primárias na educação: não apenas como fontes auxiliares e complementares, as diferentes mídias atendem diferentes modos de aprender, não existindo porque privilegiar a palavra escrita em uma realidade multimídia e d) Fim do fetichismo da avaliação: em uma sociedade onde o acesso à informação é onipresente não faz mais sentido que professores e instituições se comportem como guardiões de um conhecimento que não monopolizam mais; como profissionais da área faz mais sentido comportar-se como curadores deste conhecimento, validando, com base no método científico e de acordo com a epistemologia de sua área os conteúdos fundamentais para a formação de seus alunos.

Inovar no dia a dia do ensino superior têm sido um desafio para todos aqueles que buscam uma educação de qualidade. É necessário pensar não apenas na execução da tarefa mas porque esta tarefa existe. O resultado, contudo, trará para os professores de 2021 um pioneirismo em práticas profissionais que só tem aqueles que, do dia para a noite, foram obrigados a começar de novo a aprender a própria profissão.